Tragédia do Rio de Janeiro, hora de repensar o papel do poder público.
As fotos, notícias e outras informações que todos os dias vêem adentrando as nossas casas sobre as fortes chuvas e que assolaram algumas cidades do estado do Rio de Janeiro, cabe um momento de reflexão sobre o papel do “poder público”. Necessitamos urgentemente de termos uma sociedade vigilante a todo o momento, há alguns meses atrás vimos uma campanha eleitoral sórdida com os grilhões do poder ou de alguma esfera de interesse político enviar milhões de emails falando sobre esse ou aquele candidato. E agora, nada, sumiram. Chego, a conclusão que são espertalhões que necessitam de algum espaço para arrematar algo para sua beneficieis, e o povo, está em segundo plano. O espaço público campo de luta de milhões de pessoas que no decorrer da história da humanidade deram suas vidas para conseguir chegarmos até aqui. Temos atualmente instrumentos importantes de coesão de luta social, de fiscalização, Plano Diretor e suas leis, Ministério Público dentre outras. Temos e devemos ser os fiscais de nossa cidade, devemos e seremos os soldados de nossa luta pela nossa cidade, pois se não ficarmos vigilantes, seremos as próximas vítimas da nossa inércia em lutar e reivindicar e da burocracia estatal que não consegue disciplinar as nossas cidades.
E a chuva promete não deixar vestígio.
Não é de hoje que o Brasil, na estação do verão, sofre com as chuvas torrenciais que costumam desabar sobre ruas e tetos. Aliás, todo ano é sempre a mesma história. Em São Paulo, casas desabam e pessoas perdem imóveis e vidas. Kassab diz que esse ano choveu mais que o passado. Embora seja um erro inadmissível culpar São Pedro pelas tragédias, ele não deixa de ter razão. O volume de chuvas tem aumentado gradativamente ano a ano. Milhões em obras são gastos para tentar conter a fúria das águas. Obras significam, literalmente, brita e cimento. E este é o grande problema. As águas não tem pra onde escoar. Há os bueiros que não dão conta e os pífios existentes, entupidos pelos porcalhões que jogam lixo nas ruas. Sim, eles ainda estão entre nós e não são poucos. E não adianta criar mais, as redes de esgoto não suportam o volume, e as águas vão para rios e córregos, que transbordam causando prejuízos, tragédias e aumentando ibopes. Casas desmoronam e matam em encostas, pessoas continuam em suas casas condenadas. Não têm pra onde ir, justificam. Com razão.
“A emenda é pior que o soneto”, já disse certa vez o poeta português Bocage, eternizando a expressão. A cidade de Atibaia está em estado de alerta; até agora morreram varias pessoas na capital paulista e crateras dilaceram ruas; prédios desabam no Rio de Janeiro e os mortos já chegam a quase 800 (até a finalização deste artigo); 65 cidades decretam estado de calamidade em Minas Gerais; árvores saem voando em Mairinque; córrego transborda e inunda casas em Votorantim; levantamento de chão na marginal Dom Aguirre em Sorocaba não surte efeito; e sei que cada um dos leitores deste artigo têm uma história relativa pra contar.
Em aspectos econômicos, os prejuízos são incontáveis. Nossos bolsos sofrem: a chuva destrói plantações e apodrece estoques. Vá ao sacolão e compre um quilo de tomate, uma alface e duas cenouras, só não esqueça de levar um a mais para não voltar com apenas um pepino, e não é do japonês. É, agora sobra pra todo mundo descascar o abacaxi e chupar essa manga.
Estamos comprando uma briga desleal com a mãe natureza. Tudo o que ela quer é, simplesmente, seguir o seu curso. E não importa o que esteja pelo caminho. O homem não toma conhecimento de suas necessidades e constrói, cimenta, emporcalha, destrói, faz filho e não perde um dia de Big Bróder. Custa deixar um metro de diâmetro ao redor de árvores no meio urbano? Custa jogar o papel no lixo? Custa o poder público se preocupar com quem mais precisa e fazer as mudanças prometidas e não cumpridas? Verba pra isso é recebida. Mas infelizmente acabam tendo outro destino.
É dever do Estado fazer com que centenas de pessoas não percam a vida todo ano. Custa fazer o mínimo minha gente? Custa sim e não é barato.
Mas tá tudo bem. Já tem gente combinando o carnaval, vai começar o futebol e o coringão entra em campo, agora o Ronaldinho Gaúcho tá no Flamengo, o Totó ressuscitou e o Tiririca é o representante do povo na Câmara.